Álbum review: Em “Eu Venci o Mundo” Veigh mostra potencial, mas desperdiça em um mar de repetições
Nome forte do trap de São Paulo, lança seu primeiro álbum totalmente solo e com uma grande expectativa, mas deixa uma sensação agridoce em seu final.
Nota: (★★☆☆☆)½
Veigh chega com seu mais novo álbum, Eu Venci o Mundo (EVOM), um projeto que traz uma mistura interessante de sonoridades, referências e uma estética visual que dialoga diretamente com a cultura urbana paulistana e a vida na periferia.
O disco é um marco importante para o artista, que vem conquistando espaço no rap nacional e mostrando seu potencial, mas também revela algumas limitações que precisam ser superadas para que ele evolua ainda mais.
Um túnel do tempo aos anos 2000 e 2010
O álbum EVOM traz uma produção orgânica em algumas faixas, como “Visões”, onde é possível sentir a textura dos instrumentos e um som de baixo menos presente do que o usual no trap.
A influência de artistas como The Weeknd e Drake é clara, especialmente na base rítmica que dialoga com o Timbaland e cria uma atmosfera nostálgica dos anos 2000.
Veigh trabalhou com produtores renomados como Nagalli, Bvga Beatz, Toledo, WhYJay e até o lendário Timbaland, que participa do álbum, reforçando o cuidado e investimento na produção.
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Faixas como “Artista Genérico” contam com samples de “Ayo Technology” (Timbaland e Justin Timberlake), e “Beliber” traz uma base de drill que lembra “Doja” e Central Cee.
Dos Prédios para Mônaco
Thiago Veigh da Silva, mais conhecido como Veigh, iniciou sua trajetória no rap em 2017, formando a dupla Constelação. Porém, seu reconhecimento maior só veio após conhecer o produtor Nagalli, em 2019.
Desde então, Veigh acumulou milhões de acessos e conquistou a primeira posição nos Charts Globais do Spotify com seu álbum Dos Prédios (2023), ultrapassando Anitta.
Sua estética sonora e visual é bastante interessante e representa bem a cultura urbana paulistana, com referências ao cotidiano dos prédios da Cohab, onde cresceu, e à vida na periferia, ele sintetiza isso na música “Mônaco Freestyle”.
Veigh mistura funk brasileiro, reggaeton, afrobeat, trap e drill, criando um som comercial sem ser genérico.
Amor, fama e identidade
Veigh transita entre temas de lifestyle, inveja, ostentação e, principalmente, relacionamentos amorosos. O álbum tem uma quantidade significativa de faixas que falam sobre mulheres, fãs e amores: “Ausência”, “Dona da Verdade”, “Amor Fictício” e “Indiretas com a Voz”, que aborda seu último relacionamento.
No entanto, essa predominância de “lovesongs” acaba cansando o ouvinte, especialmente porque o projeto tem 16 faixas e pouco mais de 35 minutos.
A repetição de palavras e frases semelhantes torna o final do disco mais fraco e menos interessante, mesmo com faixas fortes como “Sangue do Cordeiro” e “Artista Genérico”.
A escolha de não incluir participações no álbum, para mostrar seu potencial solo, acaba deixando algumas letras do meio para o fim, monótonas e sem a dinâmica que colaborações poderiam trazer.
Faixas como “Reuniões Comigo Mesmo” trazem mensagens mais profundas, falando do passado difícil, da falta de esperança e da confiança em Deus e no talento para alcançar a ascensão.
Já “Filho da Promessa” e “Sangue do Cordeiro” discutem a fama, os invejosos e o deslumbre que pode afastar o artista de suas raízes, mas também mostram sua volta à base e reencontro consigo mesmo.
Marketing é a alma do negócio
Veigh demonstra estar antenado às tendências e estratégias de marketing. “Taylor” é uma homenagem direta às fãs de Taylor Swift, as “swifites”, e funciona como uma ponte para atrair esse público para sua música.
“Beliber” segue a mesma linha, conectando-se com fãs de Justin Bieber e refletindo como Veigh construiu sua carreira: apesar de ser trapper e cantar sobre a vida na rua, ele se apresenta como um “bom menino”, conquistando o público teen e as gerações mais novas.
A divulgação do álbum foi muito bem feita, com uma ativação artística no Parque do Ibirapuera que celebrou as conquistas e a ascensão de Veigh.
O título Eu Venci o Mundo (EVOM) também tem um significado interessante: é “MOVE” ao contrário, remetendo à ideia de movimento e correria, que permeiam a vida e a carreira do artista.
A capa do disco, com um degradê do azul ao vinho, simboliza essa transformação, do “água para o vinho” em sua trajetória.
Entre acertos e recaídas, Veigh ainda busca o equilíbrio
O álbum começa muito bem, com batidas variadas, cadências diferentes e temas diversificados. Porém, do meio para o final, Veigh parece recuar para uma base de trap mais genérico, com letras repetitivas que deixam o encerramento cansativo.
Faixas como “Talvez Você Precise de Mim” trazem bases que lembram diretamente músicas de Drake, como “Rich Baby Dad”, reforçando a influência do canadense no trabalho do brasileiro.
“Dono da verdade” é outra faixa que mostra as referências do rapper oriundo dos prédios: adlibs, vocais e instrumental soam como “Often” de The Weeknd.
Eu Venci o Mundo chega como um marco na carreira de Veigh, mas termina preso em suas próprias limitações. O artista mostra que tem talento e uma sonoridade interessante, mas se perde em letras repetitivas e uma quantidade excessiva de faixas que parecem feitas para agradar em vez de desafiar.
O álbum soa como uma aposta segura, que não reflete a personalidade marcante que ele demonstra em algumas faixas. Fica a expectativa de que encontre o equilíbrio e deixe sua música tão legal quanto a personalidade.